Sinais que apontam o caminho - Comentário da LES
João 20:30 e 31
A. Não desconsiderando a grandeza, beleza e profundidade dos escritos do apóstolo João, não somente em suas epístolas, mas também no Apocalipse, o capítulo 20:30 e 31, pessoalmente, é uma das poções mais belas da Bíblia. Isso porque, não somente aponta para o fato de Cristo ter realizado muito mais do que foi relatados pelos escritores evangélicos, mas também, porque indica o motivo pelo qual, João já idoso, se dedicou a escrever seu evangelho: "para que vocês [nós] creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus". E, por que escrever sobre isso? Levando em consideração o momento histórico em que João escreve seu Evangelho (década de 90 d.C), é possível inferir que os desafios encontrados por Jesus no início de Seu ministério (década de 30 d.C), ainda estavam presentes ao final do primeiro século. Me refiro ao desafio de levar o ser humano a crer que Jesus é o Filho de Deus. Mais de sessenta anos após Sua obra entre Seu povo e, o início da pregação do evangelho ao mundo, o desafio se mantinha o mesmo: o desafio de crer, o desafio da fé no Jesus de Nazaré.
B. O casamento em Caná - O casamento em Caná é, sem dúvida, em episódio que guarda diversos aspectos e referências importantes que apontam para a divindade e identidade de Jesus. Contudo, se analisado de forma isolada, podemos perder de vista o quadro completo, bem como, os detalhes enfatizados pelo texto. Vamos analisar alguns pontos:
- Casamento: a união entre duas pessoas diferentes que decidem unir-se a fim de formar uma única família.
- Lembrando que o texto do capítulo dois está dentro do contexto do capítulo 1, os versos 43 a 49 mostra a relação entre duas pessoas com características diferentes: Felipe e Natanael. O primeiro é o crente em Jesus. O segundo, o descrente ou incrédulo.
- No entanto, ambos se unem pela fé em Jesus (v.49).
- A cidade de Caná: Felipe era de Betsaida, cidade de André e Pedro (João 1:44). Natanael era de Caná e, Jesus de Nazaré, cidade onde passou Sua infância.
- Logo, o crente Felipe apresenta Jesus ao incrédulo Natanael que pergunta: "De Nazaré pode sair alguma coisa boa? (v.46)". A resposta é apresentada no casamento.
- A fala da mãe de Jesus: Maria, com sua fala, faz referência a citação de Moisés em Deuteronômio 18:15 a 19, onde é dito que surgiria um "profeta" e todos deveriam ouvi-lo e fazer o que Ele dissesse. Referência a Jesus (João 2.5).
- O vinho: o vinho, por vezes, é sinônimo de doutrina ou ensino, assim ao transformar água em vinho, a narrativa pode estar fazendo uma referência a relação entre João Batista e Jesus.
- Isso porque, em João 1:15 e 25 a 27, João declara que Aquele que virá depois dele é superior a ele. Não somente porque existe antes dele, mas também, porque Ele realizará um batismo superior.
- Com essa declaração João deixa evidente que o que "vem depois ou o que será servido por último" será melhor e superior ao que veio ou foi servido antes. Assim como o último vinho (doutrina, ensino ou profeta) é superior ao primeiro.
- Por fim, o objetivo do casamento foi alcançado: Jesus dar início ao sinais que apontam Sua divindade e, com isso, levar Seus discípulos a crer.
C. O segundo sinal na Galileia - Ao fazer referência ao relato de João 2, as bandas em Caná, o autor está antecipando o que vai acontecer: novamente Jesus agora a fim de promover a fé em Sua divindade.
- Deste relato, dois pontos podem ser destacados:
- O pedido do pai: ao pedir que Jesus descesse até Cafarnaum o pai, oficial do rei, condicionou a sua fé e, por consequência, a cura do filho a ação de Jesus ir até sua casa.
- Jesus notou que havia uma condição para o pai acreditar que Ele poderia curar o filho, a condição era o sinal de obediência de Cristo em segui-lo até a casa. No entanto, Jesus não precisava atender ou obedecer o pedido do pai. Era o pai que precisava atender as instruções de Jesus. Essa era a condição para a cura do filho.
- A reprovação de Jesus: como sabemos os milagres ou sinais operados por Jesus não foram recebidos como um infalível instrumento de conversão. Pelo contrário, muitos que viram e presenciaram os milagres de Jesus o seguiam somente pelos benéficos recebidos e não pelo desejo de terem a vida transformada. Isso porque milagres não transformam o coração, pelo contrário, podem endurecê-lo ainda mais. Como foi o caso do Faraó do Egito por ocasião do Êxodo.
- A festa: embora João não deixe claro qual das festas estas ocorrendo em Jerusalém, é possível inferir que se refira a festa das Trombetas. Esta ocorria no sétimo mês e marcava o início do Ano novo Judaico. Sendo que os 9 primeiros dias as trombetas eram tocadas anunciando o dia do Juízo ou Expiação.
- O tanque: por ocasião de festas como estas Jerusalém ficava repleta de pessoas vindas de todas as partes da terra para as celebrações. Talvez, seja por isso que, o local do tanque estivesse tão cheio.
- Outra razão para haver tantas pessoas no local era a crença popular de que as águas do tanque uma vez "agitadas por um anjo" ti há o poder de curar.
- O nome Betesda significa "casa de misericórdia".
- O homem: Jesus vai ao encontro de um homem que:
- Não o conhece;
- Não o segue;
- Não responde a pergunta e;
- Não acreditava no poder de Deus.
- Isso fica claro pelo fato de estar buscando a cura no local e de modo errado.
- Por fim, nos cabe uma pergunta: Por que Jesus escolheu aquele homem? A resposta pode estar no fato de que aquele homem reflete a realidade do povo judeu. Embora detiveram a verdade não conheciam o Filho de Deus e não criam Nele, nem mesmo na Palavra de Deus.
E. Corações Duros - O capítulo 5 continua narrando os eventos que terão lugar após a cura. Neste contexto o homem curado é encontrado no templo e ali há dois diálogos importantes:
- O homem e os judeus - nesse diálogo ao verem um homem carregando sua cama no sábado os judeus focam não quem era o homem (um ex-paralítico) eles focam a "transgressão do mandamento (tradição)".
- Note, o foco aqui está na cura, no bem estar estar curado o na ação de graça em retribuição a ação divina, mas sim na tradição.
- O homem e Jesus - nesse diálogo ao reencontra o homem curado Jesus o adverte a seguir a vida e deixar a prática do pecado.
- Note que o foco de Jesus está não na tradição dos homens mas na pessoa e no desejo de que nada pior aconteça.
F. As reivindicações de Jesus - Como vimos até aqui, há algo de desafiador no ministério de Jesus: convencer a nação de quem Ele é.
- A fim de superar esse desafio Jesus irá se apoiar em reivindicações sólidas. Tais como:
- Em Seu relacionamento com Deus (vs.19 a 30);
- No testemunho:
- De João Batista;
- Dos sinais e milagres;
- No Pai e;
- Nas Escrituras.
- Deixando claro que, aquele que não crê Nele, como Filho de Deus, será julgado pelas palavras de Deus transmitidas por Moisés (João 5:45 a 47).
Destaque:
A. A cura praticada por Jesus no capítulo 5 retrata uma triste realidade. Por vezes estamos mais preocupados com a regra, a tradição, a liturgia e o Mandamento do que com as pessoas. Por vezes, cuidamos mais da igreja do que das pessoas que deram fazem parte. Desejamos, por vezes, dar mais atenção a obra de Deus, do que o objeto da obra que são as pessoas. Os judeus, neste caso agiram desta forma, focará mais a regra do que a cura realizada por Jesus.
Aplicação:
A. Infelizmente, um dos maiores desafios de Jesus, apresentado ao longo deste estudo e, por que não dizer ao longo de todo o evangelho de João, é a árdua tarefa de defender Sua identidade e missão. Não diferente ocorre hoje, o maior desafio continua sendo levar o ser humano a aceitar que Jesus é o Filho de Deus e, que Suas palavras são as Palavras de Deus e Sua missão, a própria missão de Deus: dar ao ser humano oportunidade de mudança e salvação.
Pr. Vítor de Oliveira Ribeiro - Sagrada Família - MMN - USeB.
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