A história de fundo: o prólogo - Comentário LES
João 1:1
A. Quando nos deparamos com o prólogo de João, ou seja, o que se encontra no capítulo 1:1 a 18, tendo como base o que encontramos no capítulo 21, ou seja, no final do livro, conseguimos compreender com relativa facilidade que a preocupação do apóstolo ao escrever seu evangelho estava fundamentada e direcionada ao público que teria contato com este relato. O público alvo do apóstolo João não eram os cristãos dá assim chamada primeira geração ou seja, aqueles que tiveram contato direto com Jesus ou com os primeiros discípulos. O público alvo de João, próximo do final do primeiro século da era cristã, são os cristãos da segunda geração. Estes são aqueles que não tiveram contato com Cristo do mesmo modo que não tiveram contato com os primeiros discípulos, não sendo, por sua vez, testemunhas oculares dos eventos que envolveram o ministério de Jesus. Logo fica claro, que o desconhecimento da pessoa de Jesus, de Sua identidade messiânica, e dos feitos que Ele realizou, oferece ao apóstolo João a necessidade de descrever Jesus não somente como um homem mas principalmente como Deus. O Deus que está à frente do tempo, da história e da criação, mesmo antes que esta viesse a existir. Sendo assim, o prólogo de João tem como finalidade identificar Aquele em quem seus ouvintes e leitores deveriam crer.
B. No princípio: o Logos divino - Sem dúvida nenhuma as palavras descritas por João no capítulo 1:1 estão envoltas em uma tão profunda teologia que vai além daquilo que nós seres humanos podemos compreender em toda a sua completude. Sem dúvida nenhuma há neste texto muito mais do que podemos compreender. No entanto, ainda assim, tratando de um texto grandioso em sua dimensão e profundidade, podemos extrair deste, grandes verdades apresentadas por João.
- Dentre estas verdades podemos com relativa facilidade destacar pelo menos cinco, a saber:
- Primeiro João deixa claro que Jesus é a Palavra.
- Segundo João destaca que Jesus é Deus.
- Terceiro João aponta que além de ser a Palavra e além de ser Deus, Jesus estava no princípio antes que tudo viesse a existir.
- Quarto João descreve que Jesus é o Criador, pois antes dele nada existia e por meio Dele tudo passou a existir.
- E por último João destaca que em Jesus há vida e luz.
- Deste modo, ainda que contendo verdades profundas demais para que a mente humana possa compreender, João 1:1 a 5 revela pelo menos cinco características que apontam para a divindade de Jesus.
C. A Palavra se fez carne - Como já afirmamos anteriormente é impossível compreender a maneira como João descreve Jesus no início do seu Evangelho se não compreendermos o contexto histórico em que João está escrevendo o seu relato.
- Nos dias de João haviam diversas correntes filosóficas que usavam o termo logos para se referir a estrutura racional do universo ou a própria ideia da lógica e da razão.
- Algumas filosofias identificavam o logos como um intermediário abstrato entre as formas eternas e as formas perecíveis descritas por Platão entre a realidade perfeita e a realidade imperfeita.
- João por outro lado, vai defender uma verdade incontestável, a verdade de que Jesus é o logos. E que este logos, a Palavra, é uma pessoa e essa pessoa é Jesus Cristo que sendo Deus se fez carne e habitou entre nós a fim de que pudéssemos ter acesso não somente a glória de Deus mas sobretudo aos benefícios do Seu amor pela humanidade.
D. Ouvindo ou não ouvindo a Palavra - Mais do que entender que Jesus, o verbo, esteve entre nós é necessário compreender que nem todos aceitaram Jesus.
- As palavras iniciais do capítulo 1 do Evangelho de João destacam que Jesus de fato é o Filho de Deus mas isso não foi o suficiente para que todos pudessem aceitá-lo e crer em Seu nome. Os versos de 10 a 13 destacam que nem todos receberam Jesus como Deus logo, nem todos tiveram sua vida transformada pela luz do mundo.
- Esse é um tema que está presente em todo o evangelho de João, o contraste entre a disposição de Jesus em salvar a humanidade e a indisposição da humanidade em aceitá-lo como fonte de salvação.
- Logo, a incredulidade ou a necessidade de crer em Jesus é um tema que se apresenta desde o primeiro ao último capítulo do livro, pois ao concluir o livro, João diz claramente que seu objetivo é descrever Jesus a fim de que o seu leitores possam crer no Senhor e por Ele ser salvo. No entanto, já no prólogo do livro, João destaca que nem todos aceitaram a Jesus. Mas a todos quanto aceitaram, Cristo ofereceu o direito de sermos feitos filhos de Deus.
E. Temas recorrentes: fé/incredulidade - Como já dissemos anteriormente o evangelho de João trabalha com a perspectiva de levar o leitor a compreender a necessidade de crer que Jesus é o Filho de Deus. Sem muita dificuldade o leitor consegue compreender que a narrativa descrita por João dos fatos que envolvem a vida de Jesus separam o público com quem ele teve contato em dois grupos distintos:
- aqueles que acreditam em Jesus e,
- aqueles que de fato creem que ele é o Filho de Deus.
- A grosso modo, ambos os grupos não apresentam distinção ou diferença contudo, aqueles que simplesmente tem fé e crença em Jesus não se comprometem com ele a ponto de terem a vida transformada.
- Por outro lado, aqueles que de fato creem que Jesus é o Filho de Deus fazem da sua crença nele motivo pelo qual permitem que Ele transforme a vida de forma prática, visível e continua.
- No Evangelho de João o verbo crer envolve não somente você saber que Jesus é Deus mas leva aquele que crê a expressar a sua fé em Cristo por meio de uma vida transformada. Isso ganha destaque e notoriedade quando compreendemos que até mesmo o inimigo de Deus crê em Jesus contudo, isso não move sua vida á transformação.
F. Tema recorrente: glória - Assim como o tema da fé e da incredulidade está presente em todo o relato do evangelho de João, outro tema ou assunto que se destaca neste mesmo evangelho é o tema da Glória ou glorificação de Jesus Cristo.
- No evangelho João usa a palavra grega "doxa", glória ou glorificar, para destacar a ação de brilho e esplendor, louvor ou exaltação, para se referir a honra que Jesus deveria receber tanto dos homens quanto do próprio Pai.
- Interessante notar que a ideia de ser glorificado em João (17:1), está relacionado com a hora em que Jesus se entregaria na cruz pela humanidade.
- Logo ser glorificado no Evangelho de João se refere ao momento em que Jesus seria morto na cruz do calvário.
- Paradoxalmente, o momento de maior agonia e humilhação de Jesus seria também o momento onde seria coroado de Glória pelo próprio Deus, pois se refere ao momento em que Jesus seria novamente exaltado, louvado e engrandecido com a honra e glória que teve antes de vir ao mundo.
- Consumando assim aquilo que o próprio Cristo havia predito no Evangelho de João capítulo 3:14. Fazendo referência ao episódio em que Moisés levantou a serpente no deserto, nas palavras de Jesus Ele também deveria ser levantado e, ao ser levantado, atrairia todos a Ele mesmo. Referência ao momento máximo de sua glorificação, exaltação e honra ao ser colocado na cruz do calvário.
Destaque:
A. Assim como em Gênesis 1:1 a primeira informação destacada pelo autor é que Deus é o Criador, no prólogo de João, o autor inicia a sua fala deixando claro que o verbo estava com Deus no princípio e o verbo é Deus. Logo, assim como a primeira e mais clara informação de Gênesis 1 é que de Deus é o Criador, a informação mais clara e direta de João no capítulo 1 é que Jesus é Deus. Isso se torna relevante, porque se não compreendermos em Gênesis, que Deus é o Criador tudo o que será relatado em seguida perde o sentido. Do mesmo modo, ocorre em João, caso o leitor não se conscientize, já no início, que Jesus é Deus, todos os relatos apresentados na continuidade do evangelho perdem o significado, o sentido e o poder. Assim, João inicia o seu livro com a informação básica e o contexto e cenário geral que ajudará o leitor a reforçar a ideia primária já apresentada em relação a Jesus: Ele é Deus.
Aplicação:
A. Imagine que você tenha a oportunidade de ser a única testemunha sobre uma importante verdade e você seja enviado a viver entre pessoas que não conhecem essa verdade e, é sua tarefa, através da sua vida testemunhar sobre esta verdade. Os versos 6 a 9 do capítulo 1 de João retratam essa dura realidade. A tarefa incumbida João Batista de apresentar e testemunhar sobre Jesus para pessoas que não o conheciam e como diz o relato não o identificaram como sendo Filho de Deus. Quando olhamos para o relato de João Batista feito pelo apóstolo, vemos a dura realidade enfrentada pelo profeta de ter de testemunhar por meio da sua própria vida para que outras pessoas pudessem crer em Jesus. Tente se imaginar nessa situação, tendo em suas mãos a tarefa e o dever de fazer da sua vida um testemunho vivo para que, por meio dela, outros possam acreditar que Jesus, de fato, é o Filho de Deus. Essa, na verdade, também é a nossa tarefa. A tarefa de servir como testemunha de que Jesus é Deus, não por meio de sinais nem prodígios, mas simplesmente, através do testemunho da nossa própria vida.
Pr. Vítor de Oliveira Ribeiro - Sagrada Família - MMN - USeB
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