Controvérsia em Jerusalém - Comentário LES

Marcos 11:25

A. A forma como João Marcos elabora sua narrativa do ministério de Jesus é impressionantemente conectada. Ao iniciar a leitura e estudo dos capítulos 11 e 12 o leitor atento notará que o que fora predito por Jesus no capítulo 8:31, tornasse real nos relatos que descrevem Seu encontro com os "principais sacerdotes, os escribas e os anciões" (cf. Marcos 11:27).  Quando Jesus predisse esse encontro o contexto do texto apontava para a necessidade de ir á Jerusalém e ali Se entregar, morrer e ressuscitar no terceiro dia. Logo, se Jesus está em Jerusalém e, o que predisse sobre tais encontros estão ocorrendo, o contexto está apontando para Sua morte e ressureição. Noutras palavras o capítulo 11 nos preparará para o desfecho do ministério terrestre de Cristo.

B. Entrada triunfal - O início do capítulo 11 aponta um contraste entre os capítulos anteriores. Enquanto anteriormente Jesus não queria que Seu nome e fama se espalhasse, agora Ele permite que todos o identifiquem e declarem quem Ele realmente é.

  • O modo como Jesus entrou em Jerusalém está repleto de importantes simbolismos:
    1. Ele envia mensageiros (discípulos) para preparar o caminho ou festejo;
    2. Os discípulos trazem um jumentinho, ligando a entrada de Jesus a entrada de Salomão (1 Reis 1:32 a 48);
    3. O jumentinho é tomado a serviço do "Senhor";
    4. Jesus é recebido como Rei, associando-O a Davi (cf. Marcos 10:47 e 48);
    5. A frase: Hosana, nas maiores alturas! Ecoa o canto dos anjos por ocasião do nascimento (entrada triunfal) de Jesus: "Glória a Deus nas maiores alturas," em Lucas 2:14 e;
    6. Ao entrar no templo, embora tenha tido festa nas ruas, no templo Ele não foi recebido da mesma forma.
      • No entanto, o texto termina com de modo diferente como muitos imaginavam. Para o povo, Jesus sendo recebido como Rei deveria se dirigir ao centro da cidade e requerer o trono de Israel, contudo, Ele foi ao templo. Simbolizando onde, de fato, está o trono de Deus.

 C. A figueira e o Templo - O verso 11 serve como introdução aos versos 12 a 26 e, 12:1 a 12, visto que, ele aponta um importante atitude de Jesus. no verso 11 Jesus entre no templo, observar e sai.

  • No dia seguinte, saí de Betânia (casa dos pobres), e com fome, segue em direção ao templo.
    • No caminho, com fome, busca figos em uma figueira que aparenta ter frutos, mas não o encontra porque não era o "tempo".
    • No caminho, desejando ir a Casa de Oração, busca no templo o que aparentemente deveria encontrar, pessoas orando, mas não encontra, porque embora já fosse o tempo certo, haviam transformado o templo em um "covil de salteadores".
      • Embora Jesus tenha amaldiçoado a figueira e purificado o templo, o capítulo 12: 1 a 12, bem como o capítulo 13:1, aponta que o templo como a figueira estavam condenadas a inutilidade. Pois com a morte de Jesus na cruz, o templo, assim como a figueira deixariam de dar "frutos".
        • Por fim Jesus vai tratar dos três objetos principais do templo: 
        1. a fé;
        2. oração e;
        3. o perdão

D. Com que autoridade? - Marcos afirma que no dia seguinte, Jesus foi visto andando pelo templo. Uma atitude significava para Aquele que no dia anterior havia purificado o local. Agora o caminhar pelos pátios do templo remete a ideia de alguém cuidando do local que Ele mesmo purificou.

  • O caminhar pelo templo somada a purificação e os ensinos incomodaram os principais sacerdotes, os escribas e os anciãos, aqueles que ate então exerciam autoridade local.
  • A pergunta: Quem te deu tal autoridade ...? Revela que os líderes haviam recebido sua autoridade de um terceiro. Contudo, Jesus não dependia da autoridade de outro, Ele mesmo era a autoridade.
    • E, para revelar Sua autoridade e missão, Jesus apresenta uma parábola. Nela:
      • O homem, dono da vinha, é Deus;
      • A vinha é a verdade do evangelho;
      • Os lavradores são o povo de Israel (Judeus);
      • Os servos são os profetas e;
      • O filho amado é Jesus.
        • Assim, como os lavradores desejaram domar para si mesmos o que não lhes pertencia (a autoridade e a verdade), os lideres religiosos tomaram para si a autoridade e a verdade. 
          • Com a parábola Jesus responde a pergunta: Quem te deu tal autoridade? O dono da vinha deu ao Filho Sua autoridade.

E. Deveres terrenos - Ao analisar o relato sobre a questão do tributo devemos levar em consideração dois elementos:

  1. Jesus está no templo - um local que possuí uma moeda própria e onde os cambistas trabalham para realizar a troca das moedas estrangeiras pelas moedas do templo (cf. Marcos 11:15) e;
  2. Jesus esta dialogando com dois grupos, aparentemente, opostos, fariseus (nacionalistas) e herodianos (judeus partidários de César e do governo romano).
  • Mais uma vez, Jesus se vê diante de um dilema: 
    • Caso diga que é errado pagar o imposto a César estaria indo contra o governo;
    • Caso diga que é correto pagar o imposto teria o desagrado de grande parte do povo.
      • Assim, Ele recorre mais uma vez ao princípio e, tomando uma moeda, enfatiza sua propriedade com base na imagem nela impressa. Fazendo uma clara distinção entre a moeda que trás a imagem de César que a ele pertence e a moeda que deveria ser usada no templo, para pagar o imposto exigido por Deus.
  • Já, ao tratar sobre o tema da ressurreição Jesus dialoga com um terceiro grupo, os saduceus. Esse grupo de judeus que acreditavam somente nos livros de Moisés, não criam na ressurreição.
    • Nesse diálogo Jesus ratifica, em duas etapas o "poder de Deus" para ressuscitar aqueles que Nele crer.

F. O principal mandamento - Ao analisar esse trecho da narrativa bíblica é necessário compreender que para os judeus não haviam somente os Dez Mandamentos citados por Deus e escritos por Moisés em Êxodo 20. Os rabinos judeus contavam cerca de 613 mandamentos dentro do Pentateuco. 

  • Logo, a pergunta do escriba era realmente válida. Dentro da grande quantidade de mandamentos, qual deles é o "principal".
  • Vale a pena destacar que a palavra "principal" usada no texto vem do adjetivo grego "prote" que pode ser traduzido como "primeiro, antes ou principal".
    • O "principal", responde Jesus é: 
      • Reconhecer que Deus é o único Senhor e amá-lo e;
      • Amar o próximo como a nós mesmos.

Destaque:

A. O episódio da figueira, precedido pelo verso 11 em que Jesus entra e saí do templo, revela aquilo que Jesus desejava "ver e encontrar", porém, não encontrou. O texto está em paralelo com a entrada de Jesus no templo, pois o que Ele desejava encontrar não encontrou. No templo Jesus desejou encontrar fé, oração e perdão, temas abordados nos versos 22 a 26. Contudo, ali encontrou compra e venda de produtos, cambistas e mercadores que haviam transformado a Casa de Oração em um covil de ladroes.

B. O diálogo entre Jesus e o escriba (Marcos 12:28 a 34), aponta que em momento algum, nem Jesus, nem mesmo o escriba, discutem ou afirmam, a anulação dos de mais mandamento em detrimento do "principal mandamento". Pelo contrário, estão eles discorrendo sobre o principal dentro todos, reafirmando a validade de importância dos demais, resumidos nesses dois.

Aplicação:

A. O capítulo 11 e 12 apresentam momentos que Jesus teve de lidar com questionamento e debates dobre princípios e doutrinas bíblicas importantes que Ele ensinava. O que deve ser ressaltado é que em todo o momento Jesus se baseou no "Assim diz o Senhor". Ou seja, Sua fonte para confirmar Seu ensino não era a tradição ou os rabinos de Seu tempo, mas a Palavra de Deus (o Antigo Testamento). A atitude de Jesus nos ensina que, diante dos questionamentos que chegarem a nós, não devemos tentar encontrar respostas pessoas, pelo contrário, devemos nos basear no que diz a palavra de Deus.

Pr. Vítor de Oliveira Ribeiro - Sagrada Família - MMN - USeB

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