De dentro para fora - Comentário LES

Marcos 7:15

A. Qual o poder de um comportamento? Qual a influência de um costume? Qual o impacto e a profundidade de uma tradição ou cultura? Um comportamento praticado repetidamente, torna-se um costume e, um costume, aceito, replicado e ensinado, torna-se uma tradição/cultura. E, uma tradição/cultura, respeitosamente mantida, torna-se uma "verdade". Uma verdade tão real e inviolável que, com o tempo, torna-se tão importante e intocável "como" um "mandamento" divino.

B. Tradições versos Mandamentos - A formação do Reino de Judá, com a divisão da nação Israelita, levou a tribo de Judá, agora um reino, a tornar-se, principalmente, após 605 a.C., com o cativeiro babilônico uma nação cujo foco foi elevar a prática da a Lei de Deus a um nível tão elevado que, como resultado, a Lei nunca mais viesse a ser transgredida e, com isso, o povo nunca mais estivesse sob desagrado divino. 

  • O cuidado exagerado em não desobedecer a Lei, fez com que os líderes religiosos desenvolvessem, ao longo do tempo, comportamentos (costumes, hábitos, tradições), que logo se tornaram "leis" adotadas e respeitadas pelo povo. O cuidado em não desobedecer a Lei, deu origens a leis que tinham como objetivo proteger a Lei. Mas com o tempo, tais "leis" tornaram-se mais importantes que a própria Lei.
  • Jesus deixa evidente sua autoridade sobre as tradições e costumes judaicos ao afirmar (Marcos 7:13), que tais leis estava invalidando os Mandamentos divinos. 
    • Típico caso em que o embrulho acaba recebendo mais cuidado e importância do que o presente dentro dele.

C. Mãos puras ou corações puros - Quando analisamos as declarações de Cristo, principalmente em relação ao verso 15, o primeiro passo é levar em consideração, o que Ele mesmo disse: "Ouvi-me, todos, e entendei". O que Jesus apresentará em seguida é uma "Parábola". Isso fica evidente com o que é dito no verso 17c. 

  • Sendo uma parábola o objetivo é usar elementos comuns para ensinar uma verdade mais complexa. 
  • A verdade mais complexa é explicada em detalhes nos versos 18 a 21.
    • Quando o tema é "purificação", o que contamina (o torna impuro ou inapto para a adoração diante de Deus), não é o que ele come, mas sim o que ele mantem no coração (mente).
      • Uma vez que, judeus não tinham como "alimento" o que era proibido por Deus, Jesus não inclui em sua declaração de "puros" os animais proibidos em Leviticos 11.
    • A lista de "desígnios maus" reúne pensamentos e desejos que levam o ser humano a se tornar inapto à adoração. 
      • Mantendo tal comportamento, como afirma Isaías, honramos a Deus com os lábios mas mantemos nosso coração distante de Deus. 

D. Filhos e cachorrinhos: Judeus e estrangeiros -  A beleza do texto bíblico esta na forma como o mesmo nos ajuda a aprender de um modo progressivo. Isso é, a história, narrativa, relato ou doutrina apresentada, sempre estará em conexão com a doutrina ou verdade apresentado anteriormente, formando um quadro cada vez mais completo e interligado. Isso ocorre em Marcos 7:1 a 8:21.

  • Em Marcos 7:1 a 23 o tema central é a contaminação ou purificação cerimonial. E, o ponto abordado é o lavar das mãos a fim de manter a purificação cerimonial.
  • Já nos versos 24 a 30 o tema continua sendo a purificação cerimonial. E, o ponto abordado é o contato com gentios (a mulher grega de origem siro-fenícia).
    • Nesse contexto Jesus:
      • Mantem contato com um "gentio" indo contra o "preconceito étnico" judaico;
      • Reafirma que o que contamina, nesse caso, não é o contato com pessoas cerimonialmente consideradas impuras, mas sim o preconceito;
      • Afirma que o evangelho "primeiro" deveria alcançar os judeus e;
      • Afirma que assim como o evangelho era, em primeiro, lugar, para os judeus, deveria também, ser repartido com os demais povos (gentios). 

E. A cura do surdo e gago - Levando em consideração que nenhuma parte do texto bíblico está ali por acaso, ate mesmo a mais pequena das histórias ou relatos, tem algo a nós ensinar. Talvez as versos 31 a 37 além de revelar uma porção a mais da misericórdia divina ao curar um enfermo, revele também que, Jesus mais um vez, esteja no território de Decápolis.

  • A primeira vez que esse território é mencionado (Marcos 5:20), Jesus estava sendo expulso do local por ter curado um endemoniado. 
  • Após a cura do homem que era morada de demônios e, posterior trabalho de evangelização realizado pelo mesmo homem, agora curado, Jesus não é mais rejeitado no local, pelo contrário, Sua presença é bem vinda e pessoas enfermas são trazidas a Sua presença.
    • Talvez, um ponto importante desse relato seja o fato de que em terras judaicas Jesus estava sendo criticado e desacreditado, já em terras estrangeiras, pessoas estavam "maravilhadas" (v.37), com o Seu poder.   

F. O fermento dos fariseus - Por mais raro e improvável que possa parecer, o milagre realizado hoje, tornar-se-á algo comum se repetido com frequência. 

  • Jesus já havia tido um embate com seus opositores quanto a Seu poder para expelir demônios (Marcos 53:20 a 30). Na ocasião, Jesus afirma que atribuir a Satanás a obra do Espírito Santo é blasfemar contra Deus.
  • Em Marcos 8:11, são os fariseus, que como o próprio inimigo (Mateus 4:3) "tentam" Jesus pedindo que prove sua filiação por meio de um "sinal".
    • Levando em consideração tudo o que Jesus já havia feito até ali, não era de se esperar que tivesse de validar Suas credenciais divinas por meio de milagres. 
    • No entanto, este texto deixa claro que milagres não convertem corações fechados a compreensão da Palavra e ação de Deus.

Destaque:

A. A compreensão correta de Marcos 7:1 a 23 evidência que, ao corrigir os escribas e fariseus vindos de Jerusalém, Jesus não está supervalorizando o 5° Mandamento (honrar os pais) ao passo que anula o Mandamento divino referente aos alimentos (Gênesis 8:20 e Levíticos 11). Pelo contrário, Jesus deixa claro que os comportamentos, costumes, hábitos, tradições e a cultura humana, não está acima da Lei (vontade) de Deus. Pelo contrário, assim como honrar os pais se mantinha como uma Lei imutável de Deus, Suas leis sobre a alimentação, igualmente, se mantinha imutável. Jesus não manteve uma e alterou outra. Ele reafirmou a validada da vontade de Deus, tanto em relação a uma como a outra. Por tanto, afirmar que a declaração de Cristo (v.19) torna "todos" os animais puros para o consumo humano, excluindo com isso a restrição alimentar sobre determinadas carnes, por exemplo, é, mais uma vez, colocar a tradição humana acima dos Mandamentos de Deus.

B. O verso 18, do capítulo 7, deixa claro que nem mesmo os discípulos de Jesus compreenderam a parábola apresentado no verso 15. Não diferente, ainda hoje, muitos não compreendem o objetivo de Cristo com essas palavras. Seu foco está no que "contamina" ou não o ser humano, não as restrições alimentares.

Aplicação:

A. Qual a última vez que, antes de se deitar para dormir, você tenha tirado tempo para orar a fim de que o sol volte a nascer? Qual a última vez que orou pedindo que você posso despertar na manhã seguinte? Quando foi a última vez que orou pedindo a Deus a oportunidade de continuar respirando? Coisas "triviais", comum, que de tão comum deixam de ter importância e significado. Visto que o sol nascer, o despertar e o ar, julgamos não serem milagres de Deus. Por termos acesso a tais coisas todos os dias, não consideramos a ação poderosa de Deus em nos oferecer a cada dia. A verdade é que tudo o que temos em abundância não consideramos ser um milagres de Deus e, por consequência, tendem a perder o poder de nos levar a agradecer e confiar em Deus. Eis o fermento dos fariseus. Pedir de Deus um sinal para crer, desconsiderando tudo o que Ele já fez e demonstra Ser. 

Pr. Vítor de Oliveira Ribeiro - Sagrada Família - MMN - USeB

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