Gênesis

Alan Gracioto Alexandre
alangracioto@outlook.com
Historiador e Pesquisador


O capítulo 1 do livro de Gênesis relata a criação do mundo. O autor [sendo o mais provável, Moisés] ressalta logo na primeira frase de que Deus é o criador dos céus e da terra, sendo o próprio doador da vida, o qual formou o homem segundo a Sua imagem e semelhança. 

Histórica cientificamente esse relato é improvável, mas não impossível. Diversas civilizações antigas como Egito e Babilônia preocuparam-se em criar narrativas da criação que se assemelham em alguns pontos ao texto de Gênesis. A maioria destas anteriores ao cânon bíblico.

O texto egípcio de Tebas sugere o deus Amom como aquele que estava no princípio, criador de todas as coisas. Paralelamente encontra-se o mito babilônico da criação, a Enuma Elish – ressaltando a prevalência de Marduque sobre Tiamat [o monstro do mar]. Cita-se também o poema sumeriano conhecido como Epopeia de Atrahasis, no qual abrange o recorte que se estende da criação ao dilúvio – sendo a causa deste último a irritação dos deuses pelo barulho causado pelos homens.

Os mitos estavam relacionados com a cidade de origem. Por exemplo, as lendas egípcias de Mênfis classifica o deus Ptá como criador e a de Tebas, Amom como deus supremo. Acreditava-se que o deus da cidade estabeleceu toda a criação a partir daquele lugar, por essa razão eram estabelecidos altares considerados sagrados. Nota-se que dentro de uma mesma cultura não existia unanimidade a respeito da criação, servindo esses como uma espécie de mito fundante, cujo intuito era promover a imagem da cidade ou de um povo. 

Algo que chama muito atenção nesses relatos é que a maioria trata a criação como fruto de uma luta entre divindades e, que os seres humanos foram criados como servos dos deuses, destinados a fazer o “trabalho sujo” destes. Os mitos gregos são similares aos demais, classificando a imersão das deidades após um caos inicial.

O relato de Gênesis apesar de semelhante em alguns pontos e datado dum período posterior (ca. 1446-1406 a.C.) não pode em hipóteses alguma ser classificado como plágio ou uma adaptação. O autor preocupou-se em classificar toda a criação como submissa ao Seu criador, algo que não é visto nos demais mitos. Por exemplo, a qualificação da Lua e do Sol como luminares “menor” e “maior”. Muitas línguas antigas classificam os nomes dos astros como divindades. A palavra hebraica traduzida por “Sol” é shemesh, porém o deus-sol dos mesopotâmios recebe o nome de Chamach. A palavra grega para “Lua” (selene) é também o nome da própria deusa-lua grega. As estrelas também são condicionadas como objetos criados, indignos de adoração.

Além desses fatores a Bíblia diz que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus – uma lógica totalmente oposta as outra lendas. O relato rejeita por inteiro o tema das demais culturas: a deificação da natureza. Além disso é apresentado apenas um Deus (Elohim), mostrando que Ele é o único agente criador. Nesse sentido o relato bíblico é mais coerente e lógico que as demais narrativas. E vai uma pergunta para reflexão: Qual deles ainda sobrevive?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os últimos dias - Comentário LES

Controvérsia em Jerusalém - Comentário LES

O caminho, a verdade e a vida - Comentário LES