Davi - Michelangelo
Davi (1501-1504) encontra-se atualmente na Galleria dell'Accademia, em Florença, para onde a escultura foi transferida a fim de protegê-la das intempéries. Na praça de Signoria está exposta uma réplica.
O crítico Marcel Marnat considera que o imponente Davi representa as virtudes "republicanas e cívicas" do Renascimento, em especial da República florentina, Fortezza e Ira.
Relacionando-o com o Davi de Donatello, de jovem e provocadora sensualidade, e com o Verrocchio, de andrógina sedução, o Davi de Michelangelo, com seu semblante franzino e olhar inocentemente descarado, encarna a cólera justa do homem heróico, imagem da qual os cidadãos da Florença republicana, ameaçada por todos os lados, tanto necessitavam. [...].
Com essa escultura, o genial artista italiano conquistou o respeito e a consagração como um dos grandes mestres de seu tempo. Cabe ressaltar que a qualidade de Davi impressionou até mesmo o contemporâneo Leonardo da Vinci, que ficou admirado com a "retórica masculina" da estátua de mármore. [...].
Contudo, vale destacar que para realizar essa obra prima, Micnelangelo recebeu um enorme bloco de mármore anteriormente utilizado e golpeado por outros artistas. Augustino di Duccio, foi um deles, que em 1463 teve a incumbência e responsabilidade de esculpir um profeta, mas não chegou ao fim (1).
Com esse enorme bloco de pedra já utilizada e golpeada, o mestre italiano aceitou o desafio de transformá-la numa das mais belas estátuas da história.
Esse pequeno trecho da história de Michelangelo e, sua relação com a criação dessa tão imponente obra de arte merece uma, também breve, mas não insignificante reflexão.
Por vezes somos tomados de assalto por circunstâncias das quais não gostaríamos de atravessar. Não raramente o contexto e o ambiente os impõem tribulações que dentem a desafiar a nossa fé e, frequentemente leva-nos a prever nosso próprio fracasso. Desistir, voltar atrás ou mesmo buscar, em meio aos escombros da queda, algo ou alguém em quem possamos justificar nosso, aparente, fracasso.
Tendo recebido a difícil tarefa de esculpir tão imponente obra, Michelangelo poderia ter desistido. Sendo conhecedor de que outros antes dele já haviam empreendido semelhante obra e, desistido, também ele poderia ter feito o mesmo.
No entanto, tomou para si a imensa massa rochosa, já utilizada, desprezada e, duramente golpeada por outros e a transformou numa obra de arte.
Dois conselhos, se é que me permite:
1 - quando colocamos nossa vida nas mãos de um ser superior, Deus, que conhece nossas limitações e fraquezas, mas também nossas virtudes e potenciais, podemos ter a certeza que nenhuma tarefa requerida será maior do que a qualificação que Ele nos dará. Ao ser chamado Ele nos capacita e;
2 - mesmo a mais rude e desfigurada pedra, mesmo um golpeado e desprezado pedaço de pedra bruta, o Eterno pode transforma num obra de arte.
Nunca se esqueça, Ele é o autor, nós, obras de suas mãos. Ele é o mais hábil artista do universo pois além de ser Deus é, também, o Criador.
Nisso consiste o conceito de Autor e Obra.
Referência:
1 - Michelangelo/ [coordenação e organização Folha de S. Paulo: tradução Martin Ernesto Russo]. Barueri, SP : Editorial Sol 90, 2007, (Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura : 9), p. 20 e 21.
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