Julgado e Crucificado - Comentário LES
Marcos 15:34
A. Como ocorre nos capítulos anteriores, em que cada um deles tem um cenário ou pano de fundo em que os eventos se desenvolvem, o capítulo 15 não será diferente. Neste, o cenário será o Gólgota (Lugar da Caveira), local onde eram executados os condenados romanos. Contudo, de modo paralelo temos ainda o Templo como cenário compartilhado, enfatizado por Marcos, pois o que o corre na Cruz tem sua aplicação e cumprimento não somente ali, mas também no lugar Santo e Santíssimo do templo de Jerusalém. Nas cenas apresentadas, temos destaque aos locais e as horas em que cada evento ocorre, marcando um ponto de transição entre a obra de Cristo como o Cordeiro de Deus e, a retomada de Sua obra como Sumo Sacerdote e Mediador da nova aliança instituída na Páscoa/Ceia do Senhor.
B. O Rei dos judeus? - Embora o Sinédrio fosse o conselho e autoridade máxima entre o povo judeu, não estava sob a responsabilidade destes administrar a pena de morte. Por isso, recorreram ao governador romano, Pilatos.
- O Sinédrio sabia que, sob a jurisdição de Roma, as acusações apresentadas na noite do interrogatório de Jesus no Sinédrio não seria suficiente para que o governo romano aprovasse a condenação. Por isso, o acusaram de alegar ser o rei dos judeus (v.2).
- Tal acusação coloca Jesus em grande desvantagem legal em relação a Barrabás, visto que, motim e assassinato eram vistos como uma infração menor do que uma conspiração contra o governo romano.
- Destaca-se ainda que em momento algum da narrativa do evangelho de Marcos Jesus alegou ou reivindicou o título de rei dos judeus. Pelo contrário, foi o povo quem desejou faze-lo rei por ocasião da multiplicação dos pães (Marcos 6).
- Nos versos 6 a 10 Marcos chama a atenção do leitor para o "cenário" onde os eventos estão ocorrendo e, faz isso, mencionando o evento da Páscoa.
- Esse dado é extremamente importante porque remete a:
- Um dia de juízo;
- Condenação;
- Libertação e;
- Substituição.
- Onde o inocente (Jesus) morre para o culpado (Barrabás) obter a liberdade.
C. Salve, o rei dos judeus! - Quando analisamos o capítulo 14, destaquei que há pelo menos quatro tipo de unção. E, uma delas destina-se a preparar o indivíduo para o início de suas atividades como profeta, sacerdote ou rei. No banquete em Betânia Jesus foi ungido para a morte e sepultamento (Marcos 14:8), mas também, para o início de Seu ministério Sumo Sacerdotal (como descrito em Sua oração no Getsêmani) e para ser Rei (o que ocorrerá por ocasião de Sua ascensão após a ressurreição), ainda que interpretado de modo irônico e contrário pelos soldados romanos.
- O reconhecimento equivocado dos soldados em relação a Jesus se dá pelos seguintes elementos:
- Marcos cita os soldados;
- o palácio;
- o destacamento;
- a púrpura;
- a coroa;
- a saudação real e a;
- adoração.
D. A crucifixão - Todo o processo de crucifixão era extremamente doloroso, cansativo e expositivo. A dor e a vergonha eram elementos similares nesse processo, ainda mais para um inocente. Logo, todos os elementos destacados por Marcos trazem ainda mais significado para a cena e o cenário em que Jesus esta inserido.
- Marcos dará ênfase a alguns dados:
- A negação de "alivio"- ao negar o vinho com mirra;
- A hora - três momentos são mencionados: a terceira (v.25), a sexta e nona (v.33) em referência aos momentos ligados a liturgia do templo;
- A destruição do santuário (v.29) fazendo referência ao corpo de Cristo;
- O teste para que Jesus Se salve;
- A incredulidade dos lideres religiosos;
- O incidente com o Véu do templo e;
- A declaração romana que reconhece a identidade de Jesus.
- Com Sua morte na cruz Jesus põem fim a utilidade dos serviços prestados no templo de Jerusalém. Uma vez que todos estes apontavam para o que havia ocorrido na cruz.
- Ao mesmo tempo, sinaliza o início (retomado) da ação de Cristo como nosso Mediador e Intercessor junto a Deus. E, aponta para Sua obra como Sumo Sacerdote da nova aliança.
- Por fim, a cena da cruz marca o ultimo dos cinco momentos em que Jesus foi identificado como o verdadeiro Filho de Deus (Marcos 1:1; 3:11; 5:7; 14:61 e 15:39).
E. Abandonado pelo Pai - Com justiça a declaração de Cristo na cruz é considerada o "clamor do abandono" (v.34), visto ser nesse momento o final daquilo que havia iniciado no Getsêmani. Se no jardim a angústia derivada da culpa do mundo estava sobre Jesus, na cruz, essa mesma culpa, O separou totalmente da presença de Deus.
- A narrativa bíblica revela, desde Gênesis 3 que enquanto o pecado (desobediência) afasta o homem de Deus, o sacrifício (ato de obediência) aproxima. Ambas realidades foram experimentadas na cruz. A desobediência que afasta Deus de Cristo e o sacrifício de obediência que aproxima o homem de Deus.
- A fim de exemplificar essa aproximação resultante do sacrifício de obediência de Cristo, cumprindo Daniel 9:24 a 27, o véu do templo que "separa/afasta" o Santo do Santíssimo se rasga revelando o caminho e acesso direto a Deus por meio de Cristo, o Sumo Sacerdote da nova aliança.
F. Morte e sepultamento - Enquanto um pequeno e misto grupo de pessoas presenciava os últimos minutos de vida e, consequentemente, a morte de Jesus, o cair da tarde daquela sexta-feira levou as famílias de Jerusalém se atarefarem com os preparativos da Páscoa. Embora Jesus e os discípulos tenham participado de uma Ceia antecipada, aquela era o noite de relembrar o que Deus havia feito por Israel no Egito.
- Logo, é parte indispensável da narrativa de Marcos, colocar em revê-lo o cenário em que a mortes e sepultamento está inserido. O cenário é a ceia que envolve a morte do Cordeiro Pascoal no mesmo momento em que Cristo é sepultado.
- Marcos cita José de Arimateia, membro do Sinédrio "que também esperava o reino de Deus". A referência ecoa a noite da Páscoa no Egito, onde os fiéis "esperavam a libertação".
- A reflexão fica por conta de imaginar pelo que os judeus oraram naquela Ceia. Teriam somente se lembrado da libertação passada? Ou, buscaram a Deus com o intuito de obterem a libertação da qual a "celebração da Páscoa era um simbolo"?
- Fato é que, a celebração da Páscoa marcava o fim de um período e o início de um novo (cf. Êxodo 12:1 e 2).
Destaque:
A. A identidade de Jesus - Ao longo do relato de Marcos, do capítulo 1 a 8 Jesus procura manter em segredo Sua identidade. Já a partir do capítulo 9 inicia um período em que Jesus já não pede que essa informação seja mantida em segredo. Contudo, é a partir da pergunta apresentada pelo sumo sacerdote, no momento do interrogatório que Jesus, não somente manifesta Sua identidade, mas também, aponta para Sua posição junto a Deus. Concluindo com a afirmação de um centurião romano de quem Ele é - o Filho de Deus.
Aplicação:
A. A obra de Cristo junto ao homem, desde o início foi marcada pela iniciativa divina de, novamente aproximar o homem de Deus. Ao cumprir a promessa de Gênesis 3:15, nascendo como homem, Deus deu o definitivo passo em direção a unir e aproximar, o ser humano de Deus. Na cruz, o clímax da ação divina foi alcançado. Ao se fazer pecado por nós Jesus aceitou e suportou a aflição da separação do Pai a fim de proporcionar o meio de aproximar o ser humano de Deus. Jesus sofreu a dor do abandono para que você e eu tenhamos os benefícios da reconciliação com o Pai.
Pr. Vítor de Oliveira Ribeiro - Sagrada Família - MMN - USeB
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