Culpa



Um erro é descoberto no setor em que você trabalha, além de você mais duas pessoas são chamadas a responder por esse erro. Você é novo no setor e ainda esta aprendendo a desenvolver suas tarefas. Quando a falha é apresentada você reconhece que foi você que errou e por sua causa a empresa perdera recursos financeiros e você e seus colegas, serão penalizados. Diante de uma situação como esta o que você faz? Como você se sentiria, sabendo que foi você que cometeu o erro? E se não tivesse sito você o responsável pelo erro, como se sentiria? Qual seria a sua reação e atitude?

É comum ouvirmos de situações como esta. E na maioria das vezes o desfecho é sempre o mesmo. A culpa é depositada total e integralmente sobre aquele que cometeu o erro. Ainda mais se a situação for tal qual apresentada no exemplo acima. Onde, “o novato” é responsável direto pelo erro. Na maioria das vezes o erro é corrigido, e os envolvidos são penalizados. Cada um volta ao seu posto de trabalho e aparentemente tudo parece voltar ao normal. Aparentemente. Mas quando o assunto é relacionamento interpessoal a questão não se resolve tão fácil assim. Além do erro, do prejuízo financeiro, do desgaste e do stress causado pelo erro, que precisam ser administrados pelos envolvidos, um sentimento, ainda mais prejudicial, deve ser compreendido e administrado: a CULPA.

Como aceitar, administrar e reagir a este sentimento, “culpa”? O que ela causa na pessoal que a manifesta? Como reagimos se temos ao lado alguém que esta enfrentando esse sentimento? Na verdade, na grande maioria das vezes temos agido mais como peso do que como auxilio. Permita-me utilizar um texto bíblico para desenvolvermos este assunto:

“E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia;... e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim... E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me... Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi. E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.” (Gêneses 3:8 a 13)

Através deste texto clássico, podemos perceber que nos seres humanos, na grande maioria, ainda não estamos plenamente preparados para aceitar facilmente a culpa. Por isso administramos de forma errada esse sentimento reagindo de forma a prejudicar a nos mesmo e a outros.

Como aceitar, administrar e reagir à culpa

Na citação bíblica acima, podemos perceber que nossa primeira reação ao nos sentirmos envolvidos pelo sentimento de culpa é o desejo de nos esconder, ou escondermos o fato, seja ele qual for e de quem quer que seja.

E isso é algo interessante de se analisar, pois não é de nossa natureza aceitar que somos culpados. E mesmo em situações tipicamente simples, buscamos nos esquivar da oportunidade de sermos julgados como culpados. E isso, mesmo que estejamos diante de uma simples criança, que dificilmente causaria danos significativos a um adulto. Mesmo assim, não aceitamos o erro e a culpa com tanta facilidade.

Isso porque, da mesma forma como ocorreu com Adão e Eva, ocorre também á nos, sentimos medo. “Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi...”

Esse medo é motivado pelo fato de sabermos que erramos e seremos repreendidos por isso, e tende a aumentar quando começamos a considerar as conseqüências que virão sobre nos e os demais envolvidos em decorrência desse erro. Por isso temos a tendência a considerar a fuga, ou o esconder o que fizemos como a melhor saída. No entanto, o correto a ser feito nessas circunstancias é aceitarmos a culpa, se nos somos responsáveis pelo que ocorreu temos que ser sinceros e honestos o bastante para assumirmos o erro e enfrentarmos suas conseqüências, por mais terríveis que possam parecer ou ser. Buscarmos meios de repararmos o erro e reagirmos positivamente em face ao ocorrido deve ser sempre o nosso primeiro passo.

O que este sentimento causa na pessoa?

Como vimos a pouco o sentimento de culpa tende a nos causar medo, mas além dessa reação outro sentimento nos alcança: a vergonha.

Tendo sido descoberto o erro ou mesmo enquanto desconhecido de outros, a vergonha por termos cometido algo de errado toma a nossa mente, altera nosso humor e modifica nosso comportamento. Três características que dificilmente conseguimos esconder. Elas dentem a se tornarem visíveis e passam a ser notadas pelas pessoas que nos cercam. Podemos ainda dizer que esse sentimento, “vergonha” antecede o sentimento do “medo”. Pois ao nos sentirmos envergonhados pelo que fizemos ou deixamos de fazer, nos sobrevém o medo de sermos descobertos, repreendidos e julgados.
Por natureza a maioria de nos somos seres ansiosos, e essa ansiedade faz com que comecemos a imaginar o que as pessoas dirão a nosso respeito quando souberem do que ocorreu. E chega a ser ate mesmo interessante, mas na maioria das vezes somos levados a imaginar somente os pensamentos mais negativos. Raramente imaginamos que alguém será empático e compreensivo. Temos a tendência natural de sempre cogitar o contrário.

Além de vergonha e medo outro sentimento se manifesta em situações como estas, a tristeza.
Isso porque, em muitas vezes, em parte conhecemos e em parte imaginamos, quais poderão ser os resultados das conseqüências que serão aplicadas a nos e aos envolvidos.

No ambiente de trabalho, palavras como cooperação são amplamente pregadas, mas pouco ou quase nada se prática. Desta forma a pessoa que por algum motivo venha se envolver em algum tipo de erro no qual desenvolva o sentimento de culpa tende a reagir de duas formas, com sigo mesmo e com os demais.

• O individuo que se sente culpado dente a: Se envergonhar, a ter medo, e se torna uma pessoa insegurança, perde a autonomia, vindo a se desmotivar.

• De igual maneira, ela tende a crer que os outros começarão a vê-la como: Uma pessoa inspira pouca confiança, incapaz, incompetente e inferior.

Em ambos os casos a solução é aceitar o erro e saber administrar a culpa, utilizando-a de modo a motivá-lo a fim de, conhecendo o erro, venha a fazer, da li em frente, o que é certo.

Como devemos reagir se, ao lado, alguém esta enfrentando esse sentimento?
Não sei se você já se deparou com uma situação como esta, mas tendo ou não enfrentado tal situação pense bem e não aja como agirão Adão e Eva.

“A mulher que me deste por companheira ela me deu da árvore, e comi,... E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.”

A culpa provoca uma reação aparentemente automática e na maioria das vezes nos leva a reagirmos de modo a colocá-la em outra pessoa ou justificar o próprio comportamento com argumentação. Sigmund Freud, fundador da psicanálise, chama essa reação de “projeção” e afirmava que as pessoas projetam sua culpa sobre os outros ou sobre as circunstancias a fim de aliviar o fardo da culpa. Essa “projeção” é considerada um mecanismo de defesa. Ou seja, o culpado se defende lançando sobre o outro a culpa que ele mesmo deveria assumir. Já esteve, alguma vez, diante de uma situação como esta?

Mas o ato de lançar a culpa sobre os outros não contribui para a melhoria das relações interpessoais e constitui uma barreira para a solução do problema. A verdadeira solução consiste em aceitar a plena responsabilidade pelas próprias ações e buscar meios de corrigir e evitar que tais erros voltem a ocorrer. Nessas situações, ainda que aparentemente não pareça ser a melhor opção, se valer da sinceridade, da ética e da honestidade, pode tornar uma tempestade em uma calmaria, além de ser o correto a fazer.

Você já deve ter ouvido a expressão: “A corda sempre arrebenta do lado mais fraco”. Infelizmente dentro das organizações isso muitas vezes é uma verdade que impera em grande medida. A fim de sobreviver nesse terrível ambiente, onde ao invés de cooperação e espírito de equipe nos deparamos com competição, é comum encontrarmos relatos de pessoas que tenham sido demitidas por culpa de outros. Onde para que fosse preservado o posto de alguém que tenha errado, a culpa do mesmo tenha sido lançada sobre o outro, penalizado com a demissão.
A fim de que isso não ocorra precisamos entender que dentro do ambiente corporativo existem dois tipos de erros que levam a manifestação do sentimento de culpa:

1- Erro sem Culpa, ou por conta de Terceiros.

Imagine essa situação: Um novo membro é introduzido em sua equipe de trabalho e você é colocado para instruí-lo a respeito das tarefas que esse individuo deverá executar. Por descuido você deixa de orientá-lo sobre um importante procedimento. Ao executá-lo ele o faz de modo errado e ele é chamado a responder pelo erro. Por fim concluísse que o erro é do individuo que esta iniciando, mas na realidade a culpa é sua, pois deveria ter orientado o mesmo de modo a estar apito a desempenhar tal tarefa. Desta forma esse é um tipo de erro sem culpa ou por conta de terceiros.
Isso tende a ocorrer com maior freqüência com lideres ou encarregados que desprezam a necessidade de se investir tempo e atenção na tarefa de ensinar, treinar e capacitar os membros de sua equipe a fim de que os mesmos se tornem capazes de realizar suas tarefas.

2- Erro cuja Culpa se torna Injustificável e Intransferível.

Esta é aquele tipo de culpa que é apresentada por um individuo que uma vez tendo sido investido tempo e atenção no ensino de uma determinada tarefa, mesmo tendo sido treinado e capacitado a fim de realizá-la, o mesmo a realiza de modo errado.
Por ter sido investido tempo e atenção, por ter sido treinado e capacitado a fim de executar a tarefa, o erro não pode ser justificado nem tão pouco transferido a outro.
Quando compreendemos esses dois tipos de erros podemos melhor aceitar, administrar e reagir à culpa, ajudando a nos mesmos e a outros.

Formas de transformar a Culpa em recurso positivo
A fim de transformarmos o sentimento de culpa em um recurso positivo paras as partes envolvidas, precisamos dar o primeiro passo antes mesmo que esse sentimento seja manifesto, isso é, antes que o erro venha a ocorrer. E isso é tarefa do líder, superior ou encarregado pela orientação dos indivíduos recém introduzido no ambiente corporativo.

Por exemplo: Um novo membro é introduzido em sua equipe de trabalho, estando sob seus cuidados, deve se certificar que valores como confiança, empatia, atenção, perseverança e espírito de equipe sejam apresentados e praticados por aqueles que receberão esse novo membro, além de oferecer-lhe a devida orientação sobre cada uma das tarefas a serem desempenhadas pelo mesmo.

O segundo e ultimo passo é: uma vez manifestado tal sentimento por ocasião de um erro cometido por esse novo membro, motivá-lo utilizando como base os mesmo valores apresentados e praticados antes de tal ocorrido. Ou seja, sendo empático, atencioso, manifestando espírito de equipe, confiança e principalmente investindo mais atenção e tempo na tarefa de orientá-lo novamente e de modo mais aprofundado, cada uma das tarefas a serem desenvolvidas. Isso fará com que a culpa se transforme em confiança e o erro em um ponto de partida para um novo começo e não um ponto final.

O problema que muitas vezes ocorre é que antes que algo de errado ocorra nos agimos de uma forma e depois que infelizmente algo de errado acontece temos a tendência de agirmos de forma totalmente contraria conosco e com os que estão a nossa volta.
Por exemplo, muitas vezes nos comportamos como pessoas compreensivas, atenciosas e profundamente empáticas com todos. Mas quando algo de errado acontece, somos os primeiros a darmos um passo à frente, não para ajudar ou ser solidário, mas sim para deixar claro que nos não participamos do ocorrido. Pense nisso.

Um forte abraço e fique com Deus!

Vitor O Ribeiro



Fonte: http://www.rhportal.com.br/artigos/rh.php?rh=&idc_cad=4n2f8i9o9 - publicado em 18/02/2011

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