Começo difícil - Comentário da LES
Êxodo 5:1 e 2
O capítulo 5 de Êxodo inicia com o adverbio "Depois". A intenção do autor não é somente criar uma ligação com a narrativa apresentada no capítulo anterior, o objetivo é apontar para a ênfase daquilo que ocorreu anteriormente, ligando com o ponto alto da narrativa que se seguirá. Noutras palavras, ao colocar em destaque a palavra "depois", Moisés nos provoca a perguntar: Depois do que? A resposta é: Depois que Deus se revelou e se fez conhecer, Moisés O conheceu e creu nele. Mas não só isso, Arão e por consequente, os anciões, creram no Senhor e o aceitaram, de modo ainda mais real, como Deus. Uma vez que o conhecimento e a fé no Senhor, como o Deus de Israel, já haviam tomado a vida destes, foram eles apresentar este Deus ao Faraó. A ideia aqui é semelhante a apresentada no capítulo 6 de Isaías. Isso porque, Deus primeiro se revelou ao profeta, levando-o o crer no Senhor e, somente, depois, o convidou a participar da obra de restauração do povo. O mesmo ocorre agora. Agora Moisés pode apresentar o Senhor ao Faraó, e apresenta-O como de fato Ele realmente é: "o Senhor, Deus de Israel". Moisés não somente diz quem Ele é, mas acima de tudo destaca sua identidade divina, "Ele é Deus de Israel". Tal afirmação não somente identifica o Senhor, mas de modo franco e direto afronta o rei do Egito, que também era considera um deus. Moisés está afirmando ao rei que seu povo, a partir de agora, não se curvaria mais ao rei-deus do Egito, pois o "Deus dos hebreus nos encontrou" (Êxodo 5:3).
Objetivo: Apresentar ao rei a vontade de Deus e Seu desejo de liberta-los.
A. Quem é o Senhor? - No contexto sócio religioso do Antigo Testamento, cada reino tinha a sua própria "coleção" de deuses. Estes eram escolhidos ou criados pelos povos, de modo a se tornarem deus locais. Este representavam o povo local e o povo os representava, tendo o rei, em muitos casos, a função de ser o representante máximo da divindade.
- Assim, a resposta do rei para os irmãos enviados por Deus revela que o rei do Egito, conhecendo todas as suas divindades, não somente, não conhecia o Senhor, o Deus de Israel, mas também, não tinha interesse em conhecê-Lo.
- As palavras do rei podem ter soado com dom de orgulho em relação a desconhecer o Deus de Israel. Isso porque, caso esse "novo" Deus, de fato fosse importante, o rei, que conhecia as divindades locais, o conheceria.
- Logo, se este "novo" Deus não é conhecido pelo rei do Egito, Ele não deve ser tão importante.
- Outro ponto importante a se destacar é que, nesta cultura (AT), uma vez que cada povo tinha o seu deus, uma vez que, um determinado povo fosse vencido e subjugado (escravizado), isso era a indicação de que seu deus também havia sido vencido e subjugado.
- Logo, seria uma afronta o rei do Egito, obedecer a vontade de um "deus vencido" por ele. Caso atendesse ao pedido, estaria prestando obediência à um deus inferior.
- Por fim, o que de fato destaca-se é a negativa do rei em atender a vontade de Deus. Colocando-o em posição de oposição ao Deus verdadeiro.
B. Um começo difícil - Ninguém melhor do que Moisés para reconhecer que a obra empreendida por Deus não seria fácil. Embora tenha obtido êxito em apresentar a vontade de Deus para os anciões e para o povo, recebendo a aprovação destes, o mesmo não ocorreu com o rei do Egito.
- Pelo contrário, ao comunicar a vontade de Deus ao rei, este, não somente ignorou o pedido divino, mas também, tornou ainda mais pesado a servidão povo hebreu.
- Embora as expectativas do povo fosse de libertação, o resultado se converteu em maior sofrimento e dor.
- Essa situação levou a duas consequências diretas:
- O povo se revoltou contra os enviados de Deus e;
- O povo se revoltou contra Deus.
- Ambas reações que prenunciavam aquilo que se repetiria no curso da jornada do povo ate a terra prometida. Isso porque, cada vez que o que era esperado pelo povo não ocorria, eles agiriam da mesma forma.
- Algo importante que merece destaque neste contexto é a natureza do pedido apresentado por Deus ao rei.
- No verso de 1, do capitulo 5, Deus descreve seu pedido ao rei da seguinte forma: "Deixe ir o meu povo, para que me celebrem uma festa no deserto".
- A ideia apresentado aqui como "festa no deserto" aponta para o que será apresentado em Levíticos 23:2, quando o Senhor apresenta ao povo as "Festas Solenes" que deveriam ser realizadas pelo povo.
- Dentre as festas, a primeira a ser apresentada é o "Sábado semanal".
C. O "Eu" divino - A revolta do povo era compreensível, assim como a queixa apresentada por Moises a Deus (5:22 e 23). De fato, o que todos esperavam que ocorreria não ocorreu.
- Em resposta Deus promete iniciar um processo de auto revelação ao rei e ao povo hebreu.
- Note que a resposta apresentada por Deus tem como ponto motivador a declaração do rei de que não conhecia a Deus.
- Ao mesmo tempo, a revolta do povo, seguia a mesma temática, o desconhecimento real e profundo de quem é o Senhor.
- Logo, com o intuito de resolver esse problema (o desconhecimento real e profundo de Deus), o Senhor se revelará de modo ainda mais significativo.
- Isso implica dizer que, o que veremos a seguir, no que diz respeito as "pragas" enviadas ao Egito, terão duplo objetivo:
- Julgar a nação egípcia (Êxodo 6:6) e;
- Fazer com que todos saibam (conheçam) quem é o Senhor (Êxodo 6:7).
- Isso nos levam a concluir que as "pragas" além de servirem como instrumento de punição divina, foram enviadas também, como instrumento de revelação da identidade, do poder e do caráter de Deus.
D. Não sei falar bem - O estudo da história é fascinante, contudo, mesmo a mais bela história sempre será apresentada de modo que pouco conseguiremos compreender todos os sentimentos manifestado pelos personagens. No relato do capítulo 6, diante da dificuldade, Moisés, mesmo ouvindo a promessa divina, se mostrou relutante mais uma vez.
- No entanto, são em momento como este, que o conteúdo do salmo 73:23-26, nos motiva a continuar, amparados pela certeza da constante presença de Deus. Bem como pela fé em Suas promessas.
E. Moisés: como Deus sobre o Faraó - Diante da objeção apresentada por Moisés, Deus proveu uma recursos que o ajudaria.
- Assim como Deus falava com Moisés, fazendo deste, seu profeta, com a função de falar com o rei. Deus providenciou Arão, para que pudesse servir como profeta para Moises.
- Assim, Deus falaria para Moisés, Moisés falaria para Arão e, este falaria com o rei.
- De modo que, Moises não ocuparia mais a função de profeta (porta-voz de Deus), mas sim Arão.
- A estratégia adotado por Deus para ajudar seu líder nos ajuda a compreender a dinâmica do processo de revelação profética. Por por meio de, Deus se utiliza de homens e mulheres que servem como porta-voz de Deus. Apresentando ao mundo a vontade de Deus.
Destaque:
A. A resposta apresentada pelo rei do Egito em atenção a fala de Moisés revela o desdém do rei em relação a pessoa e ao pedido de Deus. Note que em sua resposta o rei não se dirige ao Senhor Deus como "Deus". Ele, simplesmente, se refere ao Senhor, afirmando que "não conhecer". A ideia de conhecer está ligada a crer, confiar e obedecer, uma vez que ele afirma não conhecer o Senhor, noutras palavras, está afirmando que não tem obrigação de fazer o que Ele deseja. Isso fica evidente no uso da frase: "ouça a Sua voz". A palavra ouvir no hebraico tem ligação intima com a ideia de obedecer. Assim o rei afirma que uma vez que não O conhece ou não o reconhece como Deus, não vai ouvi-Lo nem mesmo obedecê-Lo.
Aplicação:
A. A experiência de conhecer Deus proporciona, uma infinidade de reações. Dentre elas, o profundo senso de respeito, admiração e temor. Tais sentimentos impele o ser humano a reconhecer-se como criatura diante do Criador. Movendo a criatura a uma clara demonstração de reverência, gratidão e obediência para com o Seu Deus. Logo, o desconhecimento de Deus, não pode gerar no ser humano respeito para com a vontade de Deus. Por isso somos chamados a conhecê-Lo e, uma vez reconhecendo-O, apresentá-Lo ao mundo.
Pr. Vítor de Oliveira Ribeiro - Jaíba - MMN - USeB
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