A sarça ardente - Comentário da LES
Êxodo 3:7-8
É inegável a percepção de que o livro de Êxodo é um livro cuja proposta é falar sobre a auto revelação de Deus. O episódio narrado no capítulo 3 reforça essa ideia. A semelhança de Gênesis 4, 18 e 22, o capítulo 3 de Êxodo trabalha o processo de revelação divina, onde o Senhor se aproxima a fim de conceder ao ser humano oportunidade de conhecer mais de Seu caráter e propósito. Logo, este capítulo trata de revelação e vocação. Revelação porque por meio do encontro entre Deus e Moisés, o Senhor se dará a conhecer. Não somente apresentando evidências de quem Ele é (como Nome e poder), mas também, apresentará Seus planos em favor do povo. Ao mesmo tempo, tratará sobre vocação, pois é neste cenário que Moisés será chamado a confiar no Deus que se revela para libertar e salvar. E, é nesse ponto que a narrativa de revelação e vocação (chamado), se assemelha com Isaías 6, visto que, em ambos os casos o texto está a trabalhar a dupla ideia de revelação e vocação. Colocando em paralelo ambos os relatos nota-se: (1) o cenário em que o povo está inserido, um cenário de dificuldade onde carecem da intervenção divina. (2) um encontro entre o homem e Deus. (3) o fogo. (4) o chamado ou vocação. (5) o reconhecimento da incapacidade humana. (6) a manifestação divina a fim de persuadir [convencer] o agente humano [sinais e milagres]. (7) a reafirmação do chamado e a capacitação do agente humano. Por estes e outros aspectos o texto é carregado de informações que possibilitam a compreensão alargada de Deus e de seu plano em favor dos hebreus, mas também, em favor de toda a humanidade.
Objetivo: o episódio da sarça e o chamado de Moisés objetiva revelar que Deus tem o tempo certo para intervir e cumprir Suas promessas.
A. A sarça ardente - O capítulo 2 de Êxodo terminada revelando que Moisés, mesmo após o erro cometido no Egito, recebeu uma segunda chance.
- Fugindo para Midiã teve oportunidade de ser aceito na casa e família de Jetro, sogro e sacerdote. Casou-se com Zípora e teve dois filhos e passou a ser pastor de ovelhas.
- Com base no que é apresentado em 18:3 e 4, é possível afirmar que mesmo antes da revelação de Deus por meio da sarça, Moisés, com base no que foi instruído na infância, já mantinham relação com Deus.
- Isso fica notório pelos nomes escolhido para os filhos.
- Assim, o encontro com Deus na caverna, junto á sarça ofereceu ao pastor de ovelhas a oportunidade de aprofundar seu conhecimento sobre Deus e receber seu chamado.
- A bíblia não revela em que momento Moisés recebe de Deus a revelação quanto aos temas dos livros de Jó e Gênesis, no entanto, segundo Ellen White, nesse período que Moisés tem com tato com essa porção extremamente significativa da história da humanidade.
- Este ponto é de especial relevância pois somado ao conhecimento que receberá de sua mãe, na infância, ele pode compreender ainda mais, sobre Deus e Seu plano de redenção para a humanidade.
- Plano que incluía a libertação dos hebreus mediante o cumprimento da promessa feita á Abraão, Isaque e Jacó.
B. O Anjo do Senhor - Com base nas anteriores aparições divinas relatadas no livro de Gênesis não é surpresa que o Anjo do Senhor aqui é o próprio Deus, na figura de um mensageiro celestial que veio a fim de apresentar a vontade do próprio Deus.
- A mensagem apresentada á Moisés tem um objetivo: notificar o rei do Egito que Deus estava requerendo Seu povo.
- A indicação da propriedade de Deus sobre o povo e da filiação do povo para com Deus fica evidente nos versos 7 e 10.
- O Senhor se revelou para resgatar o que lhe pertence.
- Neste sentido, chama-nos a atenção as palavras divinas á Moisés, que deveriam ser repetidas ao rei: "O Senhor, o Deus dos hebreus nos encontrou" (cf. v.18).
- A fala divina é especialmente significativa pois coloca em relevo dois aspectos importantes:
- O rei do Egito, embora considerado um deus, não era o Deus dos hebreus e;
- A condição em que o povo se encontrava ali, era uma condição de "perdidos". Mas o Senhor os encontrou e veio para salvá-los.
- Por fim, o caráter de Moisés é revelado em contraste com o caráter apresentado em Êxodo 2:11.
- Neste episódio, tentando resolver a situação presente do povo por suas próprias mãos, Moisés se sente autossuficiente e comete um assassinato.
- Agora, 1m 3:11, ele reconhece sua incapacidade e temor diante do desafio.
- A mudança de postura revela o líder que Moisés havia se tornado.
- Um líder que reconhece sua dependência de Deus.
C. O nome do Senhor - Como já afirmamos anteriormente, o livro de Êxodo tem forte apelo para a revelação de quem Deus é. Logo, a ênfase dessa revelação passa pela necessidade de revelar Seu nome e o que ele significa.
- Quando o Senhor diz que Ele é o que é ou "Eu Sou o que Sou", sua fala está diretamente associada ao verso 12, onde Ele afirma que estará com Moisés em sua tarefa.
- Logo, o que Deus está fazendo aqui é não somente apresentar Seu nome, mas em especial, o que esse nome significa.
- Neste caso, significa ser Ele um Deus pessoal, transcendente, mas também, imanente.
- Enquanto Elohim (Deus), indica transcendência, um Deus grande e poderoso.
- Yahweh (Senhor), indica imanência, um Deus grande, poderoso e pessoal.
- Um Deus que vê, ouve, conhece, desce, tira e liberta.
- É nesse sentido que Ele mesmo afirma (6:3) que embora, tivesse se revelado aos patriarcas, eles não o conheceram do mesmo modo.
- Isso porque, o modo como estava se revelando á Moisés e, que iria se revelar ao rei e ao povo, seria de uma forma muito mais pessoal. Como o Deus se relaciona para salvar.
D. Quatro desculpas - Seja no chamado de Deus à Abraão, Moisés ou mesmo a Isaías, observando a distância podemos ate mesmo julgá-los de forma negativa. Contudo, devemos colocar em perspectiva o desafio que todos compreenderam ter diante de si.
- O pedido de Deus não era simplesmente para convidar o povo a sair. Era convidar o povo a "crer" num Deus que eles não conheciam como Moisés e que em sua perspectiva, havia se esquecido deles.
- O chamado de Moisés, antes de tudo, foi para acreditar:
- Moisés precisou acreditar em Deus;
- O povo precisou acreditar no de Deus de Moisés e;
- O rei do Egito precisou conhecer, crer e se submeter a esse mesmo Deus.
- Como já destacado a ideia central de de Êxodo 4 é acreditar.
- Por pelo menos seis vezes a ideia de acreditar é destacada no texto (vs.1, 5, 8, 9 e 31), revelando que essa era uma das objeções mais contundentes para que Moisés não aceitasse a tarefa.
- No entanto, para cada uma das negativas de Moisés Deus apresentou um meio de convencê-lo. Ainda assim, ele apresentou a ultima das quatro negativas. Senhor, envia outro (4:13)!
- O experiente pastor de ovelhas compreendia o desafio que estava diante dele. E, não era pequeno. Mesmo levando em consideração o poder que estaria a sua disposição, o desafio não era pequeno.
- Quantas vezes não agimos de modo semelhante. Apresentamos todas as objeções possíveis e quando nada funcionada, revelamos nosso mais sincero desejo, o desejo de não ir.
- A relutância de Moisés não significa que ele não desejava que Deus realizasse Sua vontade em libertar o povo, Pelo contrário, ele só deseja que tal obra não fosse realizada por meio dele.
- Por quarenta anos, enquanto esteve no deserto Moisés esteve ciente do contínuo sofrimento enfrentado por seu povo. Era seu desejo ver seu povo gozando da mesma liberdade que ele tinha. No entanto, desejou que o Senhor operasse Sua vontade por meio de outra pessoa.
- Deus não aceitou a proposta e, para cooperar com Moisés escolheu seu irmão mais velho, Arão, para acompanha-lo.
E. A circuncisão - A circuncisão foi instituída por Deus como um "sinal" de Sua aliança com o povo. Logo fazia parte do compromisso do povo para com Deus.
- Desta forma, como forma de demonstrar que obedecia a vontade de Deus de modo completo, Moises se lembrou que não havia circuncidado um de seus filhos e, o anjo enviado por Deus, o fez se lembrar de seu compromisso.
- Mas do que se lembrar de seu compromisso o incidente fez com que Moisés compreendesse que ao aceitar o chamado de Deus ele deveria ser para o povo, o exemplo daquilo que Deus desejava que seu povo se tornasse.
- Logo, Moisés, como líder, se tornou no exemplo para o povo.
- E, como líder precisava entender que não devemos negligenciar ou deixar de fazer o que sabemos que tem que ser feito.
Destaque:
A. Os versos 7 e 8 do capítulo 3, revelam aqui que em teologia é conhecido como conteúdo escatológico. Trata-se de um texto que ocorre num momento específico da história (passado), contudo, contém elementos que nos ajudam a compreender eventos que ocorreram no futuro. Funcionam como uma parábola daquilo que ocorreu e que de modo semelhante voltará a ocorrer no futuro. Logo, os versos revelam ações de Deus em favor do povo que também ocorrerão por ocasião de Sua volta. No texto temos os verbos: vi, ouvi, conheço, desci, livrar, sair (ou subir) e levar. Os verbos retratam o que Jesus esta fazendo por nós hoje. Pois Ele vê nossa condição, ouve nossas orações, conhece nosso sofrimento, desceu, para morrer na cruz e nos livrar do pecado e da morte. Com o intuito de nos fazer sair deste mundo (ou nos fazer subir deste mundo), a fim de, nós levar para uma nova terra.
Aplicação:
A. Nos dias em que vivemos, nota-se não uma expectativa por experimentar o mesmo chamado de Deus à Moisés. E, sim, uma apreensão de correr o risco de ser chamado como Moisés. O chamado tem sido feito, contudo, poucos tem aceito.
Pr. Vítor de Oliveira Ribeiro - Jaíba - MMN - USeB
Comentários