Exegese do Novo Testamento - Projeto Papirológico - João 1.1 a 38

O projeto papirológico é parte integrante as atividades relacionadas a disciplina de Exegese do Novo Testamento da Faculdade de Teologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo - UNASP-EC. Nessa disciplina o discente (aluno) é levado a ter ainda mais contato com o texto bíblico em seus manuscritos iniciais. Acessando o site “The Center for the Study of New Testament Manuscripts”, o aluno tem acesso a um grande conjunto de manuscritos qe o ajudam a ampliar seu conhecimento e, estudo das línguas originais e dos mais antigos texto contendo transcrições do texto bíblico. 

Destacando que o objetivo do projeto é, também, experimentar como era a pratica de um copita (escribas¹) nos período em que os textos foram produzidos. Relato abaixo a minha experiencia como escriba por um dia.

Imagem 1 - Arquivo Pessoal

A atividade consistia na escolha de um trecho do Novo Testamento e, a subsequente transcrição do mesmo no papiro. Dentre o conteúdo disponível foi selecionado o texto do Evangelho de João, capítulo 1, dos versos 1 a 38.

Da experiência de ler e transcrever o texto de João posso dizer que foi uma tarefa bastante difícil, mas ao mesmo tempo empolgante. 

A dificuldade reside no fato de que o texto descrito discorre sem nenhum tipo de sinalização que facilite a identificação do início e fim das frases. Bem como, o fato de todas as palavras se encontrarem unidas, umas as outras, sem a utilização de ponto final, virgula ou acentuação. 

Outro ponto a ser destaca, dentre as dificuldades, é o fato de estarmos lendo, pelo menos no meu caso, o manuscrito diretamente do computador. Isso leva o copista a ter que desenvolver ainda maior atenção e cuidado. Uma vez que é preciso estar atendo ao texto e a cópia. Não foram raras às vezes em que me perdi entre o que estava lendo e o que estava sendo transcrito. 

Poderia ainda acrescentar um ponto que certamente deve ter sido também algo relevante nos dias dos escribas, a minha deficiência visual (uso de lentes corretivas). Creio que na época em que tal texto foi gerado, aqueles que possuíam algum tipo de perda visual teriam sim maiores dificuldades para desenvolver seu trabalho.

Imagem 2 - Arquivo Pessoal

Por conta de tal dificuldade, não raro são os momentos em que foi tentado a apagar o texto escrito e reescrevê-lo. Na impossibilidade de fazê-lo, foi também tentado a deixar no texto uma marca de que o mesmo havia sido redigido incorretamente. Mas, a fim de não prejudicar a estética do mesmo mantive a escrita da forma como estava. Creio que isso me ajuda e, muito, a compreender a presença frequente de diversas “variantes textuais” encontradas hoje. Variantes textuais são erros de cópia, acréscimos ou supressões de termos, palavras ou ate mesmo de trecho completo do texto original. Tais erros ocorriam muitas vezes por falha do copista ou por seu desejo de melhor o texto, acrescentando ou trocando palavras ou ideias. 

Ainda que essa pratica, muitas vezes não tinha a intenção de causar danos, a mesma, por vezes, alterava o sentido do texto, podendo levar a má compreensão do que inicialmente o autor desejou expressar. Surgindo assim, imprecisões e mesmo distorções na compreensão teológica.

Dentre os erros ocorridos, ao fazer a minha cópia, alguns ocorreram em identificar e transcrever letras como o “alfa” e o “delta”. Em alguns momentos houve a troca de uma pela outra. Isso por que ambas se mostram, por vezes, muito parecidas. O mesmo ocorreu entre o “gama” e o “tau”, também por serem, a meu ver, bastante semelhantes.

Ainda entre as dificuldades, certamente esta o fato de não estar familiarizado com a escrita produzida por meio de uma caneta de “Bambu”. Tanto a confecção da mesma como a escrita é sem dúvida uma experiência muito interessante, pois nos ajuda a vivenciar o que na prática era feito na época dos escribas. E, vale destacar a minha surpresa em ver que o mecanismo (caneta) realmente funciona. 

Imagem 3 - Arquivo Pessoal

O mesmo pode ser dito da tintura utilizada. A mistura de cola, água, detergente, álcool e corante não só funciona, mas também é perfeitamente absolvido pelo papiro. Contudo na utilização se faz necessário tomar alguns cuidados. Por ser uma mistura bastante fina, se colocar muitas vezes a caneta na tinta ou se não esgotar parte da mesma antes de escrever o papiro ficará manchado por conta da grande quantidade de tinta.

Em relação ao papiro, deste o acesso ate a escrita tudo é muito diferente do que hoje fazemos com o papel. A textura do mesmo e, o medo de danificá-lo no processo nos faz trabalhar de modo mais atentivo e cuidadoso.

Mas há, contudo, um ponto muito bom a ser destacado, o fato de o texto ser escrito em letras maiúsculas. O formato das letras nesse estilo é, mas fácil de ser identificado e reproduzido.

Imagem 4 - Arquivo Pessoal

O empolgante nesse projeto é de fato todo o projeto, desde a confecção e aquisição dos materiais, passando pela transcrição e, de fato, o resultado final. Lembrando que estamos lidando com o texto sagrado da Palavra de Deus isso nos leva a pensar no cuidado e na responsabilidade que repousava sobre os ombros e as mãos daqueles que se colocavam como escribas. Não deveria ser uma ação praticada de forma leviana ou mesmo descuidada. Pois o produto final do trabalho não seria somente a mera cópia de um texto, mas sim a instrução, o meio e, o caminho que levaria muitos ao conhecimento da Palavra de Deus. Isso mostra quão cuidadosos e comprometidos com o transmissão do texto bíblico foram aqueles que o receberam, preservaram e reproduziram ao longo do tempo.

Nota:

1- Copista ou Escriba - Entre os judeus, aquele que lia e interpretava as leis. Profissional que copiava manuscritos ou escrevia textos ditados (https://languages.oup.com/google-dictionary-pt). 

Referência: 
http://www.csntm.org/manuscript/View/GA_01


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